Já vou dizendo logo de cara: o azul me incomoda!
Sério! Que porre de cor! Faz tempo que me incomoda. É estranho, mas não páro de pensar nisso sempre que vejo, ouço ou sinto algo significativamente azul.
Pois ao mesmo tempo que parece ser bom, é ruim. Ao mesmo tempo que eleva os céus e contrasta com a beleza das nuvens ou que leva as oferendas pra imensidão do mar, traz também elementos sombrios, que não sei explicar direito. Dá-me a noção de falsa liberdade, de aprisionamento. Tipo uma máscara mesmo. Não sei…
Mas o fato é que essa cor, mesmo que de forma um tanto quanto dúbia, referencia artistas de toda sorte: música, cinema, pintura…
Vejam só: Uma das letras mais belas e depressivas de Beatles é de Because, percebe-se quando cantam Because the sky is blue it makes me cry. Os Stones deram nome a um de seus melhores e mais caóticos álbuns de Black and Blue. Madeleine Peyroux canta os perigos e aventuras da noite em Blue Alert. Na canção Hedwig’s Lament, o personagem de John Cameron Mitchell se liberta ao mesmo tempo que lamenta o fato de sua vida ser black and blue. Kieslowky, na trilogia das cores, diz que a liberdade é azul, mas, diferente do senso comum de alegria que a idéia de liberdade traz, dos três filmes, esse é visivelmente o mais triste.
Sem falar que a cor dá um “codinome plural” a um dos ritmos mais densos e agradáveis já inventados: o blues.
Se não bastasse, os artistas dessa “modalidade” musical falam, na maioria das vezes, das desilusões da vida, dos amores que não deram certo, da espera infinda, do querer sem poder, e por aí vai… Tudo isso, é claro, sem deixar pra trás toda a beleza que permeia o sentimento.
Coisas da vida pós-moderna…
Por fim, reafirmo: corzinha mais sacana não há. Faz tipo de me-engana-que-eu-gosto: boazinha e estereotipada por fora, feia e obscura por dentro. Sei que são sensações estranhas e meio difíceis de entender, mas fazer o quê?
Como dizia Dinah Washington, You don’t know what love is, until you learn the meaning of the blues.
Vai entender…