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Um pequeno filme sobre amor

29 de Outubro de 2008

Esperava encontrar alguém… Procurei incessantemente. Devo ter tomado uns dez copos de café. Fumado uns sete cigarros. Andei por todo o lugar. Conversei com alguns poucos, que devem ter visto você aqui. Mas não me atrevi a perguntar. Afinal, não nos conhecemos. Não formalmente. Nunca conversamos. Somente alguns verbetes próprios do ofício. Tenho apenas te observado. Pela janela do quarto, pela janela do carro, pela tela, pela janela. Afinal, quem é você? Vejo tudo enquadrado… Remoto controle.

Nada.

Não vejo nada. Não encontrei nada. Só essa sensação estranha de reconhecimento. Mórbida e esquisita igualdade. Igualdade de desconhecimento.

Esquadros

Através de frases meio entrecortadas, falo de acasos. Falo de Não Amarás (A Short Film About Love, 1988), filme do polonês Krzysztof Kieslowski. Falo do amor inocente do carteiro pela avassaladora artista. Falo do amor de Florentino Ariza por Fermina Daza, em O Amor nos Tempos do Cólera, de Gabriel Garcia Marques. Falo das Conversas de Botas Batidas, de Los Hermanos. Falo dos Esquadros, de Adriana Calcanhoto. Falo dos nossos pequenos prazeres, dos feixes de paixões incitados por desconhecidos e desconhecidas desse mundo. Falo daquele arrepiozinho gostoso que dá na espinha quando a gente vê alguém interessante. Falo dos casos e mais casos de voyeurismo velado que existem por aí. Falo dos amores de tantas rugas escondidos pelos recantos mais inóspitos da alma.

Quem nunca olhou pela fresta da porta, pelo vão da janela, pelo vidro do carro? Atire a primeira pedra, por favor! O pobre carteiro não está errado. Tampouco Florentino. São apenas formas de sentir. Um sentir diferente daquele idealizado pelos rococós do grande e maravilhoso amor imortal. Uma forma de amar diferente das cantigas de amigo. Diferente até das besteirinhas amorosas da pós-modernidade, onde tudo que é esteticamente belo por fora tem o dever de ser amado. É simplesmente achar que sofrer é amar demais.

Conversa de Botas Batidas

Porém, o “amar demais” pode se transformar em “sofrer em demasia” quando não se é correspondido. Talvez, nem todos os momentos importantes pra nós sejam importantes para o outro. Uma pena, mas nem todo mundo ama na mesma medida. Não da mesma forma, não com a mesma intensidade. Mas creio que o importante mesmo é a partilha. É participar, mesmo que às escondidas, da vida de alguém. Compartilhar as dores e as delícias, mesmo que de longe. É entender e aprender um pouco mais com esses processos de formação do olhar.

Assim o amor pode ser uma medida, de algumas ou de todas as coisas, a depender dos olhos de quem olha.

Pode ser tudo.

Do nada, descobre-se o tudo. Descobri, acima de tudo, que no nada podemos encontrar tudo que desejamos. Sensações estranhas, sensações naturais, sensações humanas.

Mórbida condição.

Afinal, como dizem uns e outros por aí, voyeurismo também é participação. E o amor pode até ser considerado uma forma dolorosa de sentir a vida, mas ainda assim é gostoso de sentir. Fala você que não é, pois, a partir daqui, eu é que não falo mais nada. Quero ouvir. E, por enquanto, para além do falar e do ouvir, prefiro caminhar. E escrever.

Coisas de gente sem pé nem cabeça… Mas com coração.

∞ Mais informações sobre o filme, o livro e as músicas:

A Short Film About Love pela Wikipedia
O Amor nos Tempos do Cólera pela Wikipedia
Letra de Conversa de Botas Batidas pelo Vagalume
Letra de Esquadros pelo Vagalume

∞ Para baixar o filme:

Torrent de A Short Film About Love pelo Fulldls