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Aquele texto

22 de Junho de 2010

Para ler ouvindo The Fall of the Worlds Own Optimist, de Aimee Mann.

Sonhei com isso algumas vezes. Dei de ombros quando precisei. Era o necessário. O tempo  das coisas. Não, aquele texto não era pra mim. Hoje percebo isso com mais sagacidade que antes.

Não chorei quando precisava, porém. Preferi fazê-lo em momentos que acreditava serem misticamente mais críveis, pra mim e pro mundo. Preferi o crer sem realmente sentir, apesar de também não saber ao certo. Ou será que o simples ato de crer me fez também sentir? Isso necessariamente tem que vir antes ou depois?

Gostaria de ter estado naquele olhos. Andado pequenos passos logo ali, logo atrás. Percorrido alguns pensamentos, fagulha que fosse. Acho que nem isso. Queria ter participado de mais conversas. Ser motivo delas, talvez. Baixinho, da boca pro ouvido. Pertinho. Queria ter tido pra. Queria não. Devia ter tido pra mim aqueles lábios, uma noite que fosse.

Mas não foi.

Fiquei em segundo lugar. E isso é tudo que vou conhecer desse mundo, dessa vida? Não queria que fosse assim, mas tenho acreditado cada vez mais, muito a contragosto, nessa coisa de destino, de vibe pronta. Quinze minutos em potência máxima no microondas e tá feito. O meu é sempre o lugar após o primeiro. Isso porque sempre acreditei que as dores e delícias do primeiro lugar são sempre relativas. Sempre acreditei que nem sempre se ganha no primeiro lugar. Agora, não sei mais em que acreditar.

São tantos erros, tantas ilusões de um dia. De outro dia. Do dia após. Dos dias e dias que passam. E se eu tivesse. Era um vez. Era outrora. Agora não é mais. É outro tempo, são outros acasos. Os cavalos brancos estão em outros campos. Pisoteiam os morangos. Sujam de rubro o branco-neve dos cascos, das coxas, dos dias.

Estou cansado, enfim. Sempre cansado. Como se uma preguiça gigante estivesse atracada dentro de mim, impedindo que meus músculos se movam, que minha vida ande. Algo há tempos se quebrou, e não sei o que é.  Nas madrugadas vou catando os cacos que sobraram. Recomponho-me sempre após as três da manhã. É aí que páro de me iludir, que coloco os pés no chão. No outro dia, percebo que andei sobre ovos. Ou sobre meus próprios cacos, quem sabe? Afinal, poderia consertar o que está quebrado? Serei um dia aquele cara do qual quero me orgulhar? Será que até o fim da noite, às três da manhã, terei força pra catar todos os cacos e me recompor por inteiro, sem faltar nada? Terei forças pra parar de vislumbrar e chegar às vias de fato?

Da vida, só sei que aquele texto não era pra mim.

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Livro de Cabeceira

19 de Novembro de 2008

Φ Capítulo 1 Φ

– 3ª Página – Soneto de Quadrado –

Tudo em seus lugares.
A xícara, o cinzeiro, os livros, os chapéus, os filmes, as fotos, a colcha, o quadro de avisos,
Todos em seus lugares.
Os amigos, os caminhos, os encontros, as despedidas, os encantos, os desencantos,
Tudo e todos: lugares algozes, seguindo a teoria pós-moderna do quadrado.
Cada um no seu.

Eu?

Perdi o dia de hoje fazendo rimas de ontem.
Na verdade, ganhei.
Pois o ontem remontou o hoje pensando no amanhã,
E isto não vai parar.

Tomara.

– Listas –

Cinco Lugares:

– Terra Roxa, minha casa, meus pais, meus amigos…
– Viçosa, minha casa, meus amigos, minhas loucuras…
– Museu, seus solos, seus cafés, meus sorrisos…
– Mar, sua calma, suas águas, minhas esperanças, minhas ondas…
– Rio de Janeiro, seus excessos, seus exércitos de salvação…

Cinco Músicas:

– Save me – Aimee Mann (letra)
– Saudosa Maloca – Adoniran Barbosa (letra)
– Reptilia – The Strokes (letra)
– Dindinha – Ceumar (letra)
– Roda Viva – Chico Buarque (letra)

Cinco Filmes:

– Magnolia – Paul Thomas Anderson (torrent / wikipedia / teorias)
– Não Matarás – Krzysztof Kieslowski (torrent / wikipedia)
– Bonequinha de Luxo – Blake Edwards (torrent / wikipedia)
– Yellow Submarine – George Dunning e Dennis Abey  (torrent / wysiwicked)
– C.R.A.Z.Y – Jean-Marc Vallée (torrent / wikipedia / site oficial)

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Rua das Magnólias, nº 82.

16 de Novembro de 2008

magnolia

– It’s just no good anymore / Since you went away / Now I spend my time / Just making rhymes / Of Yesterday / Because one is the loneliest number / That you’ll ever do / One is the loneliest number / That you’ll ever know –
One, Aimee Mann

Poderia você me salvar? Das loucuras, das suspeitas, dos riscos, de nunca amar alguém?

Não. Isso não vai passar enquanto não crescermos.

Mas já ajuda, pois “um” é o número mais só que todos nós conhecemos. É mais fácil segurar a onda acompanhado. Afinal, isso acontece o tempo todo. O tempo todo. As impossibilidades possíveis acontecem a todo momento. Boas e ruins. E isto não vai parar. Não. Não enquanto não crescermos.

Será que crescer é isso? Entender que existe muito de possível nas impossibilidades da vida? Entender daí que, a partir de então, tudo sempre é possível? É admitir que as loucuras, as suspeitas, os riscos e nunca amar alguém é sempre passível de acontecer, é sempre possível? É reconhecer, mais ainda, que pra todas as loucuras, todas as suspeitas, todos os riscos, todos os amores, existe uma possibilidade?

Parei de pensar em tudo. Fumei um cigarro. Só assisti. Não conseguia acompanhar plenamente. Fiquei enebriado por um tempo.

Mas se recusares deixá-lo ir, eis que ferirei com rãs todos os teus termos, dizia Deus ao faraó. Nesse grande jogo que é a vida, não importa o que espera, o que merece, mas o que você alcança, profetizava o adolescente que só pensa em sexo. O passado já era para nós, mas não nós para o passado, rememorava o gênio ingênuo de meia-idade. São tantos os arrependimentos, apenas passamos pela vida, dizia o velho senhor à beira da morte. Eu não sou um brinquedo, não sou um boneco, dizia a criança enquanto renascia.

Cada uma dessas palavras ficaram grudadas em mim. Palavras pegajosas, tamanhas reflexões. Calmo e atordoante ao mesmo tempo. O que há por trás dessas falas de tanto arrependimento, desgosto e esperança? Castigo ou redenção?

Alguns diriam que é castigo para Deus e redenção para Paul Thomas Anderson, diretor de Magnolia (1999).

Mas prefiro não achar isso nem aquilo, pois creio ainda, enquanto sonhador que sou, que tudo é possível. Ambas opções ainda assim não deixam de ser uma intervenção divina, para aqueles que acreditam, né não?
Como diz o esperançoso tira apaixonado, Não é nada fácil pra mim tomar uma decisão. Isto é lei. Lei é lei, e eu não quero infringi-la. Mas você pode perdoar uma pessoa. Bem, essa é a parte difícil. O que podemos perdoar? É a parte difícil do trabalho. A parte difícil de ser um ser humano.

Um suspiro! Um suspiro de alívio. Um alívio um tanto quanto mórbido: Deus (ou um estranho fenômeno meteorológico) dá o momento, o pano de fundo pra ficha cair, e nós, pelo livre arbítrio que Ele (ou nossa capacidade de inferência humana) nos confere, podemos escolher?

Pois é. Deve ser por isso que essa é a parte difícil do trabalho, que essa é a parte difícil de ser um ser humano. Tem haver com coragem, com consciência, com força pra admitir que o outro existe. Força pra dar as caras e fazer escolhas sensíveis aos nossos desejos e vontades. E isso é importante para dar fluxo às coisas, para dar fluxo à vida. É sim. Para que possamos passar por ela e deixar algum rastro pra alguém, sem tantos arrependimentos.

No mais, a essa hora da madrugada inusitada, queria apenas que os sapos caíssem do céu. Pedi incrédulo, enquanto o olhar confuso continuava fixo: Por favor, caiam pra mim. E pra tantos outros.

Mas sei que eles não vão cair. Não enquanto não crescermos. Não enquanto não formos possíveis.

Por isso é que crescer nunca é demais. É acreditar cada dia mais que podemos fazer o impossível.

Aos amantes, aos errados, aos militantes, aos amigos, aos lutadores, aos permeáveis, aos alternativos, aos esperançosos. Somos todos companheiros, com olhos marejados de magnólias. Afinal, one is the number divided by two.

Wise up – Aimee Mann – Magnolia

Save me – Aimee Mann – Magnolia

∞ Mais informações sobre o filme:

Magnolia pela Wikipedia (em inglês, mais completo)
Magnolia pela Wikipedia (em português)
Site oficial de Magnolia pela New Line Cinema
Crítica de Magnolia pelo Cine Players

∞ Para baixar o filme:

Torrent do Magnolia pelo Mininova

∞ Para baixar a trilha sonora:

Trilha Sonora de Magnolia pelo Rapidshare