Para ler ouvindo The Fall of the Worlds Own Optimist, de Aimee Mann.
Sonhei com isso algumas vezes. Dei de ombros quando precisei. Era o necessário. O tempo das coisas. Não, aquele texto não era pra mim. Hoje percebo isso com mais sagacidade que antes.
Não chorei quando precisava, porém. Preferi fazê-lo em momentos que acreditava serem misticamente mais críveis, pra mim e pro mundo. Preferi o crer sem realmente sentir, apesar de também não saber ao certo. Ou será que o simples ato de crer me fez também sentir? Isso necessariamente tem que vir antes ou depois?
Gostaria de ter estado naquele olhos. Andado pequenos passos logo ali, logo atrás. Percorrido alguns pensamentos, fagulha que fosse. Acho que nem isso. Queria ter participado de mais conversas. Ser motivo delas, talvez. Baixinho, da boca pro ouvido. Pertinho. Queria ter tido pra. Queria não. Devia ter tido pra mim aqueles lábios, uma noite que fosse.
Mas não foi.
Fiquei em segundo lugar. E isso é tudo que vou conhecer desse mundo, dessa vida? Não queria que fosse assim, mas tenho acreditado cada vez mais, muito a contragosto, nessa coisa de destino, de vibe pronta. Quinze minutos em potência máxima no microondas e tá feito. O meu é sempre o lugar após o primeiro. Isso porque sempre acreditei que as dores e delícias do primeiro lugar são sempre relativas. Sempre acreditei que nem sempre se ganha no primeiro lugar. Agora, não sei mais em que acreditar.
São tantos erros, tantas ilusões de um dia. De outro dia. Do dia após. Dos dias e dias que passam. E se eu tivesse. Era um vez. Era outrora. Agora não é mais. É outro tempo, são outros acasos. Os cavalos brancos estão em outros campos. Pisoteiam os morangos. Sujam de rubro o branco-neve dos cascos, das coxas, dos dias.
Estou cansado, enfim. Sempre cansado. Como se uma preguiça gigante estivesse atracada dentro de mim, impedindo que meus músculos se movam, que minha vida ande. Algo há tempos se quebrou, e não sei o que é. Nas madrugadas vou catando os cacos que sobraram. Recomponho-me sempre após as três da manhã. É aí que páro de me iludir, que coloco os pés no chão. No outro dia, percebo que andei sobre ovos. Ou sobre meus próprios cacos, quem sabe? Afinal, poderia consertar o que está quebrado? Serei um dia aquele cara do qual quero me orgulhar? Será que até o fim da noite, às três da manhã, terei força pra catar todos os cacos e me recompor por inteiro, sem faltar nada? Terei forças pra parar de vislumbrar e chegar às vias de fato?
Da vida, só sei que aquele texto não era pra mim.